Hamilton Assis na luta por direitos e justiça social
Supervisão e edição: I’sis Almeida
Foto: Marcos Musse
Nas eleições municipais, a escolha dos vereadores é tão crucial quanto a do prefeito, pois são eles que fiscalizam o Executivo e propõem leis que impactam diretamente a vida da população. As últimas eleições municipais brasileiras ocorreram em 6 de outubro de 2024. Em Salvador, o prefeito Bruno Reis (União Brasil) foi reeleito no primeiro turno com 78,67% dos votos válidos, totalizando 1.045.690 votos. Kleber Rosa (PSOL) ficou em segundo lugar com 10,43% (138.610 votos), seguido por Geraldo Júnior (MDB) com 10,33% (137.298 votos).
A Câmara Municipal de Salvador elegeu 43 vereadores. O mais votado foi Jorge Araújo Repórter, com 36.065 votos. A diplomação dos eleitos ocorreu em 18 de dezembro de 2024, em sessão solene do Tribunal Regional Eleitoral da Bahia (TRE-BA), realizada no Teatro Sesc Casa do Comércio. Os dados apontam que a participação eleitoral registrou 1.508.867 eleitores, com 1.329.175 votos válidos (88,09%), 54.542 votos brancos (3,61%) e 125.150 votos nulos (8,29%). A abstenção foi de 23,40%, correspondendo a 460.890 eleitores que não compareceram às urnas.
Em um país onde onde as desigualdades sociais e raciais são profundas, acompanhar quem ocupa essas cadeiras torna-se ainda mais importante, especialmente no caso dos vereadores negros e da oposição, que muitas vezes enfrentam desafios para fazer valer suas pautas dentro das câmaras municipais.
Os vereadores negros, historicamente sub-representados, trazem para o debate legislativo questões essenciais sobre racismo estrutural, políticas públicas para a periferia e acesso a direitos fundamentais. Já a oposição, quando bem estruturada, atua como um contrapeso ao governo municipal, garantindo que decisões sejam debatidas de forma mais ampla e transparente.
Conhecer esses parlamentares, suas propostas e suas ações é fundamental para fortalecer a democracia, ampliar a participação cidadã e pressionar por políticas que reflitam os interesses de toda a sociedade. Por isso, hoje, começa no Portal Black Mídia, um especial onde apresentaremos periodicamente os vereadores e vereadoras negros eleitos da Câmara Municipal de Salvador. O primeiro deles é Hamilton Assis.
Foto/Reprodução: Antonio Queirós/CMS
Eleito com 7.691 votos, o professor Hamilton Assis (PSOL) chega à Câmara Municipal de Salvador trazendo consigo uma trajetória marcada pela luta por justiça social, educação pública de qualidade e combate às desigualdades.
O vereador carrega Salvador no corpo e na alma. Nascido no bairro do Pau Miúdo, próximo à Liberdade, cresceu em diferentes regiões da cidade, incluindo São Gonçalo, Boa Vista de São Caetano e o Subúrbio Ferroviário, mas foi em Pau da Lima e São Marcos que deu seus primeiros passos no ativismo político. Hoje, morador do Garcia, bairro de forte identidade cultural negra, Assis ainda tem como foco o seu compromisso com as lutas do povo soteropolitano.
Filho de um pedreiro e uma costureira vindos do interior, é educador por essência. Hamilton trilhou um caminho que o levou da sala de aula à política institucional, sem nunca abandonar sua origem militante. Formou-se em Pedagogia e especializou-se em educação das relações étnico-raciais pelo CEAO-UFBA. Atualmente, Hamilton é mestrando na mesma universidade e atua como coordenador pedagógico na rede municipal.
A sua militância iniciou na luta estudantil e na juventude negra, consolidando-o no sindicalismo e em movimentos populares. Com experiência como assessor de diversas categorias trabalhistas, desde petroleiros e metalúrgicos até servidores públicos, tornou-se uma voz ativa em defesa dos direitos trabalhistas e do serviço público. Sua atuação sempre esteve onde a resistência se fazia necessária: nos movimentos estudantis, na juventude negra, no sindicalismo, na luta contra a ditadura e nos embates pela democracia e direitos trabalhistas.
A política, para ele, nunca foi um espaço de mera disputa eleitoral, mas um instrumento de transformação coletiva. Em 2005, ajudou a fundar o Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) e, desde então, cravou seu nome na história da esquerda baiana e brasileira. Presidiu o diretório estadual do PSOL (2006-2007), o diretório municipal em Salvador (2010) e se lançou em diversas batalhas eleitorais – foi candidato a vice-presidente do Brasil (2010), prefeito de Salvador (2012), senador (2014) e vereador (2016).
Em 2018, chegou a ser pré-candidato à Presidência da República, consolidando sua trajetória como referência política nacional. Nos bastidores, coordenou o conselho político do mandato do vereador e deputado estadual Hilton Coelho, garantindo que a luta institucional tivesse raízes sólidas no movimento popular.
Primeiros passos do mandato em 2025
Agora, Hamilton Assis ocupa uma cadeira na Câmara Municipal de Salvador, trazendo consigo o peso de sua história e o compromisso com aqueles que lhe confiaram os 7.691 votos. Mas os desafios começaram cedo. Em seus primeiros meses de mandato, o vereador denuncia que a bancada do PSOL tem sido sistematicamente excluída pelo presidente da Casa e que se recusa a dialogar sobre a composição das Comissões Permanentes.
O partido, que historicamente ocupa espaços estratégicos como as Comissões de Educação, Meio Ambiente e Reparação, vê-se marginalizado nos acordos políticos internos, um movimento que Assis considera um ataque à democracia.
A reação veio rápido. Um abaixo-assinado já soma mais de mil assinaturas reivindicando que o vereador assuma a presidência da Comissão de Educação, Esporte e Lazer – um reconhecimento público de sua trajetória como educador e defensor do ensino público. Para Assis, essa disputa é sobre garantir que os interesses da população negra, periférica e trabalhadora sejam representados nos espaços de decisão.
Diante desse cenário, Hamilton não pretende recuar. “Agora, o que se busca é que o espaço do PSOL – hoje alargado, pois temos dois mandatos e não apenas um – tenha o tamanho que teve nas urnas”, afirma.
Paralelamente, o vereador tem pautado projetos fundamentais para os trabalhadores. Entre suas iniciativas, destaca-se o Projeto de Lei nº 17/2025, que propõe a redução da jornada de trabalho dos servidores municipais e trabalhadores contratados pelo poder público para 32 horas semanais, sem redução salarial. A proposta está alinhada com iniciativas similares em outras cidades e com a PEC da deputada Érika Hilton, buscando humanizar as condições de trabalho e garantir qualidade de vida aos profissionais.
“A gente busca humanizar os profissionais, as trabalhadoras e os trabalhadores que estão diariamente na luta para que a cidade funcione, mas vivem em jornadas exaustivas de trabalho que quando somadas ao tempo gasto com o transporte público chegam a 10 ou 12 horas”, afirma o vereador.
Hamilton também destaca como a medida impacta especialmente as mulheres, que acumulam responsabilidades domésticas e recebem salários menores, apesar de maior nível educacional. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as mulheres trabalham, em média, 2,3 horas a mais que os homens por semana, ao somar o trabalho remunerado com os afazeres domésticos e os cuidados de pessoas.
Além disso, ganham, em média, apenas 78,9% do rendimento dos homens. A sobrecarga de trabalho também contribui para o adoecimento mental, sendo que, segundo a OMS, as mulheres têm mais chances de desenvolver transtornos como depressão e ansiedade.
“Falar em redução da escala de trabalho, com manutenção dos salários, é assegurar que a nossa população não apenas sobreviva como tenha um bem-viver, de forma plena. Essas mudanças, em conjunto com outras ações que já estamos propondo como melhorar a mobilidade urbana, acesso a equipamentos de cultura e lazer, projetos educacionais, serviços de saúde funcionando plenamente, são fundamentais para o cuidado real com as trabalhadoras e os trabalhadores de Salvador”, reforça Hamilton Assis.
Com um histórico de luta que atravessa décadas e um compromisso inegociável com a justiça social, Hamilton reforça sua presença na Câmara como uma voz essencial para os trabalhadores, a juventude negra e as mulheres de Salvador. Seja denunciando desigualdades estruturais ou propondo mudanças, o vereador segue firme na construção de uma cidade mais justa e inclusiva.
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