Além de mudar o estatuto, bloco vai doar recursos e produzir materiais para organizações transmasculinas
Publicado em 07 de julho de 2025 às 21h
Carnaval 2025 dos Filhos de Gandhy em Salvador (BA). Foto: Diogenes Neghet.
O tradicional grupo Afoxé Filhos de Gandhy, com mais de 70 anos de história no Carnaval de Salvador, fechou um acordo com o Ministério Público da Bahia (MP-BA) para assegurar a participação de homens trans em seus eventos. O Termo de Ajuste de Conduta (TAC), assinado no último sábado (6), demanda que o grupo retire do regulamento a regra que limitava a presença no bloco apenas a homens cisgêneros.
A ação ocorreu após diversas queixas e críticas públicas, especialmente nas mídias sociais, de que homens trans foram impedidos de participar do grupo e de suas atividades. A regra excludente, presente no artigo 5º do regulamento da organização, levou o MP-BA a iniciar uma análise sobre possível ato de transfobia.
Como parte do TAC, o Filhos de Gandhy se comprometeu não só a alterar o regulamento, mas também a comunicar publicamente a inclusão de homens trans no grupo, por meio de uma nota divulgada em suas redes sociais e no site oficial. A nota deve ser acessível e visível, afirmando que todos os homens são bem-vindos, sem importar a identidade de gênero.
Além das mudanças formais, o acordo também propõe medidas de reparação simbólica e apoio à população transmasculina. O grupo deverá doar R$ 10 mil ao Coletivo Mães da Resistência — que auxilia famílias LGBTI+ vítimas de violência — e criar até 400 camisas para o Instituto Brasileiro de Transmasculinidades (IBRAT), entidade que promove os direitos e a visibilidade de homens trans no país.
Filhos de Gandhy
Criado em 1949, o Filhos de Gandhy é um dos mais notáveis representantes da cultura afro-brasileira no Carnaval de Salvador. Apenas homens cis no bloco sempre foi uma de suas imagens. Apesar da tradição de acolhimento e religiosidade, o grupo recebeu diversas críticas em fevereiro deste ano, após confirmar a exclusão de homens trans do desfile. Organizações LGBTQIAPN+ e instituições como a Defensoria Pública da Bahia e a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) consideraram a ação discriminatória. A Defensoria até alertou que a restrição feria leis que comparam a transfobia ao crime de racismo.
Frente a onda de críticas, o grupo primeiramente voltou atrás em relação à linguagem transfóbica presente em sua nota oficial, eliminando a palavra “cisgênero” e prometendo convocar uma reunião para reexaminar o estatuto. Presentemente, com o TAC assinado, a esperança é que o coletivo consiga dar continuidade ao seu percurso de luta e fé em harmonia com os valores de acolhimento e pluralidade.
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