Adeus, Preta Gil: artista e empresária morre aos 50 anos, em Nova York

A artista será lembrada pela ousadia, afeto e pela forma como reinventou padrões na música e na vida

Publicado em 21/07/2025 às 20:39

 Foto: Divulgação

A notícia veio no fim da tarde do último domingo (20): Preta Gil, cantora, apresentadora, empresária e figura pública tão presente na cultura brasileira faleceu em Nova York, onde estava desde maio para continuar o tratamento contra um câncer no intestino, diagnosticado em janeiro de 2023. Ao lado da família, enfrentou a doença com a mesma coragem com que sempre viveu: de peito aberto, sem disfarçar as dores, mas sem deixar que elas apagassem sua luz.

A confirmação da morte foi publicada nas redes sociais do seu pai, o cantor Gilberto Gil, que pediu respeito e compreensão nesse momento de luto. “Estamos neste momento cuidando dos procedimentos para sua repatriação ao Brasil”, diz a nota.

Preta Maria Gadelha Gil Moreira nasceu em 8 de agosto de 1974, no Rio de Janeiro. Era filha de Gilberto Gil e Sandra Gadelha, neta de uma das famílias mais importantes da história da música brasileira. Preta sempre fez questão de construir sua própria estrada, sempre com uma honestidade que incomodou quem esperava que ela fosse discreta.

E Preta nunca foi discreta. Na música, lançou seu primeiro álbum em 2003 (“Prêt-à Porter”, lançado em 15 de dezembro) e cravou sua marca na mistura de gêneros, na ousada estética e no orgulho de ser quem era. No carnaval, criou o Bloco da Preta, que arrastava multidões pelo centro do Rio e celebrava corpos, amores, danças, beijos e cores.

Ao longo dos anos, lançou sucessos como “Sinais de Fogo” e “Vá Se Benzer”. A artista também estreou em novelas, filmes e apresentou programas de TV. Nos palcos e nas redes, usava sua voz para falar de autoestima, saúde mental, de sexualidade, de racismo e, acima de tudo, da luta contra a gordofobia — um tema que atravessou toda a sua vida pública.

Durante anos, Preta Gil foi alvo de comentários cruéis e piadas gordofóbicas. O corpo dela foi examinado e ridicularizado, mas ela nunca recuou. Ao contrário: a cantora tornou-se um dos maiores símbolos da resistência gorda no Brasil, ao afirmar com orgulho sua presença no mundo. “Sou negra, gordinha, bissexual. Fui orientada a ser o que eu quisesse ser na vida. Assim eu oriento meu filho e meus fãs”, afirmou Preta Gil no Prêmio Rio Sem Preconceito, em 2013.

Ela falava com e para mulheres que, como ela, cresceram acreditando que não mereciam amor, prazer ou visibilidade. E, com sua existência sem censura, ajudou a mudar o imaginário coletivo sobre o que é ser mulher, ser gorda, ser artista e ser amada.

Nos últimos anos, Preta começou a compartilhar publicamente o diagnóstico e o tratamento contra o câncer. Em janeiro de 2023, revelou que havia descoberto um adenocarcinoma na parte final do intestino e precisaria se afastar dos compromissos profissionais. Desde então, manteve os fãs informados, dividindo as etapas do tratamento com um misto de franqueza e esperança — às vezes aparecendo com lenço na cabeça, outras sorrindo após uma consulta, sempre com palavras de afeto e fé. Mesmo nos momentos mais difíceis, ela fazia questão de agradecer à equipe médica, aos amigos e ao carinho do público.

A batalha foi longa, com idas e vindas, internações, procedimentos, viagens e dores. Preta se mostrou vulnerável e poderosa como sempre foi: humana. Nos últimos dias, ela teria retornado à UTI, em Nova Iorque, e infelizmente não resistiu.

A artista deixa um filho, Francisco Gil, fruto do seu primeiro casamento. E deixa também uma legião de fãs, amigos, colegas de profissão e admiradores que hoje choram a perda e celebram a vida.

Seu legado vai bem além das músicas e do trio elétrico. Preta Gil foi uma referência de liberdade, uma mulher preta e gorda que se recusou a se calar. Despedir-se dela é também renovar o compromisso de continuar a luta.

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