Aláfia Lab divulga pesquisa sobre vítimas de racismo online

Levantamento do Aláfia Lab revela 14 anos de denúncias ao Disque 100 e mostra como o ódio racial se entrelaça com machismo, misoginia e violência digital.

Publicado em 28/08/25 às 21:08

Foto:  DC Studio via FreePik

O racismo, ao migrar para o ambiente digital, ganhou novas formas de manifestação. É o que mostra o estudo “Brasil, mostra sua cara: retrato das vítimas de racismo online e o anonimato de seus agressores”, realizado pelo Aláfia Lab – Observatório de Racismo nas Redes, que analisou 1.739 denúncias de racismo e injúria racial registradas no Disque 100 entre 2011 e abril de 2025. O levantamento revela um cenário preocupante, em que mulheres negras aparecem como as principais vítimas, concentrando 56% dos casos denunciados em redes sociais.

O relatório, divulgado na última quarta-feira (27), está organizado em três grandes eixos: (1) Panorama Geral das Denúncias, que mostra a evolução temporal e a distribuição geográfica dos registros; (2) Perfil das Vítimas e dos Suspeitos, reunindo informações sobre gênero, raça/cor e faixa etária; e (3) Análise das Intersecções e Grupos Vulneráveis, que evidencia como determinados grupos – em especial mulheres, comunidades negras, crianças e adolescentes, estão mais expostos à violência racial digital.

Racismo e machismo

Os dados mostram que a violência racial no ambiente digital não atinge todos de forma igual. Entre as denúncias em que a cor da vítima foi informada, 91% eram pessoas negras, sendo 66,5% pretas e 24,5% pardas. O recorte evidencia que o racismo, quando somado ao machismo, expõe as mulheres negras a uma dupla vulnerabilidade, marcada por humilhações públicas, ameaças diretas e violência psicológica.

A faixa etária mais atingida também chama atenção: jovens e adultos em idade economicamente ativa são os principais alvos, com destaque para pessoas de 25 a 30 anos (27%), seguidas de 31 a 40 anos (22%) e 18 a 24 anos (21%). Os números indicam que a violência atravessa o espaço de atuação profissional e social de mulheres negras e impacta sua vida pública e privada.

O escudo do anonimato

Outro dado central do estudo é o papel do anonimato na internet como facilitador da violência. A maioria dos registros não traz informações sobre cor, gênero ou idade dos agressores, o que dificulta a responsabilização e reforça a sensação de impunidade.

Nos casos em que havia dados disponíveis, o perfil mais recorrente era de homens brancos entre 25 e 40 anos, representando 55% dos denunciados quanto à cor e 70% quanto ao gênero.

O estudo também revela um crescimento consistente da violência racial online ao longo do tempo. O ano de 2024 concentrou o maior número de denúncias da série histórica, com 452 registros, evidenciando a escalada de ataques recentes, especialmente em períodos de maior tensão política e eleitoral, quando discursos raciais e de gênero costumam ser ainda mais explorados.

Violência atravessa espaços íntimos

Embora as redes sociais sejam o principal palco desses crimes, o levantamento também registrou quase 10% das denúncias classificadas como violência doméstica, o que demonstra que o racismo também se infiltra em vínculos familiares e relações pessoais. Entre 2020 e 2022, a maioria das notificações se concentrou em violações ligadas à integridade, como constrangimento, injúria, discriminação e ameaça, todas de caráter profundamente psicológico e emocional.

O estudo também aponta que crianças e adolescentes representaram 11% das vítimas ao longo do período analisado, enquanto mulheres concentraram 33% das denúncias quando a violência racial estava associada ao gênero.

Ao reunir dados de mais de uma década, o levantamento do Aláfia Lab confirma que o racismo digital no Brasil é um reflexo da estrutura histórica de desigualdades. Hoje a internet também se tornou um ambiente hostil, no qual mulheres negras estão na linha de frente dos ataques.

O documento pode ser acessado aqui e ainda indica por quais canais a vítima pode fazer a denúncia.

📲 Siga também: @blackmidiaconecta e conheça nossos serviços.

💡 Apoie o Portal Black Mídia: O Futuro da Juventude Negra na Mídia! Para seguir nossa jornada em 2025, precisamos de você! Contribua com qualquer valor via PIX (CNPJ: 54738053000133) e fortaleça o Portal Black Mídia. Sua doação nos ajuda a continuar oferecendo jornalismo independente e soluções que impactam vidas.

Faça parte da Comunidade Black

As Comunidade Black é um espaço seguro para discussões sobre os temas que estão relacionados com as nossas editorias (temas de notícias). Não quer ler um montão de textos, mas quer acompanhar tópicos de temas determinados? Conheça os grupos, escolha aqueles que você quer fazer parte e receba nossos conteúdos em primeira mão.

Clique para acessar nossa comunidade

Nossa comunidade é um espaço para nossa audiência receber reforços de nossos conteúdos, conteúdos em primeira mão (I'sis Almeida, diretora jornalismo do Portal)

No geral, mesmo com as redes sociais as pessoas não se conectam, e é por isso que abrimos esse espaço de conversação. (Lavínia Oliveira, diretora de arte do Portal)

Black Mídia TV

@portalblackmidiaa

@portalblackmidia