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Lívia Oliveira

Jornalista do Portal, Lívia Oliveira é comunicóloga formada em jornalismo e escritora soteropolitana, apaixonada pela comunicação. Autora do romance "Coração Gelado", acumula passagens no Jornal A Tarde, Criativos.

Vereadores Negros de Salvador – Marta Rodrigues

Marta Rodrigues: quatro mandatos de resistência e proposição em Salvador

Publicado em 10/09/25 às 19:39

Foto: Divulgação

Conhecer os parlamentares, suas propostas e suas ações é fundamental para fortalecer a democracia, ampliar a participação cidadã e pressionar por políticas que reflitam os interesses de toda a sociedade. Por isso, o Portal Black Mídia apresentou o especial “Vereadores Negros de Salvador”, que percorreu trajetórias, desafios e primeiros passos de mandatos. Hoje, encerramos a série com o perfil da vereadora Marta Rodrigues (PT), reeleita em 2024 com 13.840 votos para a 20ª Legislatura (2025-2028).

Mulher negra, mãe, feminista e antirracista. É assim que Marta se define. Para ela, esses marcadores não são apenas identitários, mas a essência de sua atuação política. Formada em Letras pela Universidade Católica do Salvador (UCSal), especialista em Direitos Humanos (UNEB) e em Políticas Públicas (Unicamp), Marta preside a Comissão de Direitos Humanos e Democracia Makota Valdina e a Comissão de Reparação.

Além de dirigir a Escola do Legislativo de Salvador, também integra as comissões de Finanças, da Mulher e da Criança e Adolescente, espaços que, segundo ela, permitem fiscalizar e propor medidas que tocam diretamente a vida da população.

Nascida em Aiquara, interior da Bahia, Marta iniciou sua militância no movimento estudantil em Jequié. Chegou a Salvador aos 18 anos, onde mergulhou no sindicalismo, no movimento de mulheres e no movimento negro. Foi assessora da primeira vereadora do PT em Salvador, Geracina Aguiar, e do deputado Nelson Pelegrino na Comissão de Direitos Humanos da ALBA. Também lecionou em pré-vestibulares comunitários, como o COEQuilombo, voltado a jovens do subúrbio ferroviário.

“A luta feminista sempre foi central: batalhei e sigo batalhando por equidade de gênero, paridade nos conselhos municipais, garantia de absorventes nas escolas, creches noturnas para mães trabalhadoras, acolhimento para mulheres vítimas de violência e políticas de enfrentamento ao feminicídio”, afirma Marta, ao Portal Black Mídia.

Sua trajetória é marcada por uma atuação próxima às comunidades. Em Salvador, ajudou a organizar conselhos de moradores, criar creches e associações comunitárias e lutar por moradia digna. Não à toa, sempre diz que ser mãe lhe deu a percepção concreta da necessidade de redes de proteção.

“Ser mãe me fez entender, na prática, a importância de uma rede de proteção para crianças e famílias, o que reforçou minha defesa pela educação pública de qualidade e pela criação de espaços de cuidado”, destaca.

Ainda enfatiza que cada projeto trazido por ela à Câmara carrega o compromisso com o movimento negro e com a luta antirracista. “Além disso, ser vereadora por quatro mandatos também significa assumir a responsabilidade de fiscalizar a cidade, cobrar melhorias, denunciar retrocessos e lutar para que Salvador seja mais justa e igualitária, principalmente no seu orçamento público, para que seja aplicado correta e honestamente. Minha identidade está em cada uma dessas trincheiras”, conta.

Pautas atuais

Foto: Divulgação

No quarto mandato, Marta insiste em enfrentar o racismo estrutural, o machismo e as desigualdades que atravessam Salvador. Entre suas prioridades estão a defesa do meio ambiente, com projetos de replantio em áreas degradadas e resistência a iniciativas que fragilizam o licenciamento ambiental.

Ela também luta por um transporte público acessível e justo e tem defendido o fim do limite da meia passagem estudantil e a ampliação do tempo de integração no sistema de transporte.

“Outro desafio é garantir que Salvador tenha uma rede de proteção mais sólida para as mulheres. Projetos como o acolhimento noturno em creches, a destinação de vagas em hotéis para mulheres vítimas de violência e a criação da Delegacia Digital da Mulher são exemplos de como tenho pautado a vida real das mulheres trabalhadoras”, defende.

Na Câmara, Marta não costuma poupar críticas à condução da cidade. Em suas palavras, o atual governo municipal “maltrata Salvador, vende a cidade para a especulação imobiliária sem menor pudor”. A vereadora entende que seu papel é transformar a indignação popular em ação política.

“O maior desafio é enfrentar o racismo estrutural, o machismo e as desigualdades históricas que marcam nossa cidade. Mas acredito que, com organização popular, fiscalização permanente e coragem para enfrentar os interesses que nos oprimem, podemos seguir avançando”, Marta enfatiza.

Projetos e emendas 

Ao longo de sua trajetória, Marta apresentou mais de 100 projetos. Muitos se transformaram em leis e emendas que hoje fazem parte da vida de Salvador. Na área ambiental, por exemplo, apresentou o PL 87/2024, que obriga a prefeitura a promover replantio sempre que houver supressão de vegetação em áreas públicas, além de requalificar áreas verdes degradadas.

Também se posicionou contra o projeto da prefeitura que flexibilizava o licenciamento ambiental, e chegou a aprovar uma moção de repúdio contra o desmatamento e a venda de áreas verdes apresentada na 5ª Conferência Nacional de Meio Ambiente.

No transporte público, tem sido defensora da juventude. Protocolou o Projeto de Indicação 200/2023, que pede o fim do limite diário e mensal da meia passagem estudantil, e o Projeto de Indicação 201/2023, que amplia o tempo de integração no sistema de transporte de duas para três horas. Também apresentou o projeto Quero Meus Créditos, que extinguia o prazo de validade dos créditos do Salvador Card.

A pauta das mulheres atravessa praticamente toda a sua produção legislativa. Em 2021, apresentou o PL 15/2021, que institui a Política de Atenção Integral à Saúde da Mulher no município, garantindo atendimento humanizado e que leve em conta marcadores sociais, raciais e culturais.

No mesmo ano, elaborou o PL 21/2021, que prevê a reserva mínima de 5% das vagas em empresas que licitam com a administração pública para mulheres em situação de violência doméstica. Já o PL 11/2021 criou o Programa Municipal de Qualificação da Mulher para o Mercado de Trabalho, especialmente voltado às mulheres que tiveram seus empregos e rendas afetados pela pandemia.

Outros projetos enfrentaram resistências diretas do Executivo. Foi o caso da proposta de Acolhimento Noturno em Creches Municipais, pensada para mães trabalhadoras, e da iniciativa que destinava 5% das vagas de hotéis e pousadas para mulheres vítimas de violência doméstica, ambas vetadas pelo líder do Executivo..

No campo da educação, foi autora do Projeto Escola Livre da Mordaça, em defesa da liberdade de expressão contra tentativas de censura em salas de aula. Também esteve à frente da criação da Delegacia Digital da Mulher, já implantada pelo governo do Estado a partir de sua indicação.

Entre cobranças e embates, a vereadora afirma ter mandato vivo e atuante. Somente em 2025, Marta enviou 17 ofícios ao Executivo municipal.Para Marta, as emendas que se tornaram realidade são conquistas e símbolos de uma luta coletiva.

“Defendo créditos para microempreendedores negros, a criação do Memorial da Escravidão, a valorização da memória do povo negro — como quando propus dar o nome de Maria Felipa à Ponte Salvador-Itaparica ou quando atuamos para mudar a Ladeira da Praça para Ladeira Revolta dos Malês. Esses são símbolos que resgatam nossa história e afirmam nossa identidade”, explica.

Assim, seu mandato é um mosaico. Da educação ao meio ambiente, da reparação histórica à inclusão social, Marta Rodrigues insiste em afirmar que outro futuro é possível para Salvador.

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