Pesquisa do Cidacs/Fiocruz Bahia mostra que grupos racializados perdem em média 22 anos de vida por complicações das arboviroses, contra 13 anos entre brancos
Publicado em 15/09/25 às 19:05
Foto: FreePik
Um novo estudo da Fiocruz, publicado na The Lancet Regional Health Americas, lança luz sobre como a dengue e a chikungunya atingem de forma desigual diferentes populações no Brasil. A análise, liderada por pesquisadores do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs/Fiocruz Bahia), revela que fatores como raça, classe social e território moldam não apenas a chance de adoecimento, mas também a gravidade das consequências das duas doenças.
O levantamento mostra que negros e indígenas são os mais penalizados pelas arboviroses. Em média, esses grupos perdem 22 anos de vida em razão de mortes precoces por complicações associadas à dengue ou à chikungunya. Já entre pessoas brancas, a perda não ultrapassa 13 anos. A chikungunya afeta mais intensamente a população negra, enquanto a dengue é responsável pelo maior número de anos de vida perdidos entre indígenas.
A análise utilizou mais de 14 milhões de notificações registradas no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), contemplando hospitalizações e óbitos por dengue e chikungunya. Foram considerados fatores de risco como idade, sexo e comorbidades, mas a métrica central foi a de “anos de vida perdidos”, uma forma de mensurar quanto tempo, em média, as vítimas poderiam ter vivido caso não tivessem morrido precocemente por causa dessas doenças.
Segundo o pesquisador Thiago Cerqueira-Silva, líder do estudo, essa abordagem oferece um olhar inédito para o impacto das desigualdades sociais e raciais sobre a saúde. Ao invés de se limitar ao número de casos e óbitos, a metodologia mostra como essas doenças retiram mais tempo de vida justamente de quem já enfrenta barreiras estruturais, como falta de acesso a serviços de saúde e condições de vida precárias.
O estudo também aponta diferenças significativas entre regiões do país. Norte e Nordeste concentram o maior número de anos de vida perdidos entre jovens, contrastando com Sul e Sudeste, onde os impactos são menores. Crianças menores de um ano e idosos estão entre os grupos mais suscetíveis a complicações, assim como pessoas com doenças crônicas, como diabetes e hipertensão.
Esses resultados, segundo os pesquisadores, demonstram que não é possível avaliar a eficácia das políticas públicas apenas por médias nacionais. O que pode parecer um sucesso em escala geral pode ocultar falhas graves em cuidar de populações específicas, especialmente quando se trata de comunidades negras, indígenas e periféricas.
Políticas públicas e desafios
Os autores defendem que o enfrentamento das arboviroses no Brasil precisa estar articulado com o combate às desigualdades estruturais. O estudo recomenda ações contínuas de monitoramento, estratificadas por raça, etnia e território.
Embora reconheça esforços como o Plano de Ação para Redução da Dengue e outras Arboviroses, a pesquisa enfatiza que políticas duradouras e mais precisas são necessárias. Isso porque as condições que alimentam o ciclo da desigualdade, como saneamento básico insuficiente, menor cobertura de atenção primária e barreiras socioeconômicas, são determinantes para a persistência da vulnerabilidade.
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