Ilustração:
Designer de soluções e ilustradora do Portal, Rayssa é multiartista baiana, designer e historiadora em formação pela UNEB. Trabalha com projetos visuais e sociais voltados à negritude desde 2018, como no Diário da Mari, coletivo ZeferinaS. Usa a comunicação visual como uma ferramenta social por meio da ilustração.

Colagem: Rayssa Molinari/Portal Black Mídia — Todos Direitos Reservados, jamais reproduza sem os créditos
Malcolm X já alertava que “o pior crime que o homem branco cometeu foi nos ensinar a odiar a nós mesmos”. A discriminação sistêmica leva negros e negras a internalizarem o racismo, desenvolvendo aversão à própria identidade, um ódio que, segundo ele, contribui para comportamentos destrutivos, inclusive a criminalidade. Uma das ferramentas usadas para reforçar essa imagem é a imprensa, que transforma estatísticas em narrativas que projetam comunidades negras como criminosas.
Essa lógica racista não é apenas simbólica: ela sustenta políticas e práticas de violência estruturada, como a “megaoperação” realizada no Rio de Janeiro, nas favelas do Complexo do Alemão e da Penha, na terça-feira (28). Mais de cem corpos tombaram, enquanto outros jovens serão recrutados pelo tráfico, porque educação, cultura e lazer seguem sendo negados pelo Estado, e facções criminosas atendem a interesses próprios, muitas vezes articulados com lideranças políticas que quase nunca são responsabilizadas.
Não há êxito quando operações policiais dizem “desarticular facções criminosas” por meio de chacinas. Desarticular grupos criminosos se faz com inteligência, planejamento e respeito à Declaração Universal dos Direitos Humanos.
A operação, gerenciada pelo governador Cláudio Castro, evidencia como interesses políticos se sobrepõem à paz, uma paz que jamais chega a pessoas negras, periféricas, a mães, irmãs e famílias que vivem diariamente sob a violência estrutural.
O que essas comunidades enfrentam não é apenas violência pontual: é um trauma coletivo, complexo, contínuo e gritante. Um sofrimento que atravessa gerações, marcado pela negligência do Estado, pela exclusão social e pela criminalização da pobreza. Até que educação, cultura, lazer e direitos humanos sejam respeitados, a chacina seguirá sendo política, e não exceção.
Até que nós, enquanto comunidade negra que ocupa majoritariamente as favelas brasileiras, possamos nos reconhecer como um único povo, continuaremos presos a um ciclo de violência que nos é imposto e naturalizado.
Reconhecer nossa própria dignidade e humanidade é parte essencial da resistência e da construção de uma paz verdadeira, que finalmente nos inclua.
Não é preciso muito esforço para saber que, entre os mais de cem mortos, há inocentes – jovens, mães, irmãos, moradores que apenas tentavam viver suas vidas em segurança. A criminalização da pobreza e a seletividade da violência transformam favelas em territórios de morte, onde cada operação policial produz mais dor, trauma e medo do que segurança.
Enquanto o Estado não investir em educação, cultura, lazer e oportunidades reais de inclusão, enquanto não houver responsabilização de quem usa o poder político para perpetuar a violência, a guerra contra as comunidades negras continuará a ceifar vidas.
Chacinas não desarticulam facções; perpetuam ciclos de violência, geram mais vulnerabilidade e aprofundam o racismo estrutural que insiste em definir quem merece viver e quem está destinado a morrer.
O que está em jogo é a vida da população negra e periférica do Brasil. Até que o país reconheça isso e assuma a responsabilidade, cada operação seguirá sendo política, e não exceção.
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