Além da cantora angolana, o trio contará com a participação de Fafá de Belém e homenageará Mateus Aleluia
Margareth Menezes em pocket show de lançamento do Triiio da Cultura 2025 – Foto: Diogo Andrade e Pongo – Foto/Reprodução: Rimas e Batidas
O som dos tambores atravessou o Atlântico quando milhões de pessoas negras foram sequestradas da África e escravizadas no Brasil. Salvador, primeira capital do país, tornou-se um dos principais territórios dessa diáspora, e foi aqui que a batida africana encontrou resistência e reinvenção. Cada toque de tambor ecoa como um chamado ancestral, um lembrete de que nossa história não começa e nem termina na dor.
Se o axé nasceu desse encontro entre ritmos africanos e força negra, o Triiio da Cultura, comandado por Margareth Menezes em 2025, reafirma esse legado, celebrando a potência da negritude para além das narrativas de sofrimento. Este ano, a ponte entre Bahia e Angola ganha um novo fôlego com a participação de Pongo, a rainha do kuduro, que traz ao Carnaval de Salvador a batida pulsante e envolvente de Luanda.
Pongo: da infância refugiada à rainha do kuduro
Nascida em Angola, Pongo teve sua infância marcada pela guerra civil, obrigando sua família a buscar refúgio em Portugal. Foi lá que sua trajetória musical começou, misturando influências africanas com a música eletrônica europeia. Aos 15 anos, ela se destacou ao dar voz ao hit Wegue Wegue, que a projetou mundialmente. Desde então, Pongo consolidou sua carreira como um dos principais nomes do kuduro progressivo, estilo que moderniza o ritmo angolano com elementos de pop e EDM. Sua participação no Triiio da Cultura reforça a conexão histórica e cultural entre Bahia e Angola, trazendo para o circuito Dodô (Barra-Ondina) um encontro de sonoridades ancestrais e contemporâneas.
“Ser ancestral e ser contemporâneo”
As estratégias de Pongo para escalar mundialmente como um dos nomes mais marcantes do kuduro na atualidade ressaltam o que Margareth Menezes respondeu ao Portal Black Mídia a respeito da juventude celebrar a diversidade cultural afrobrasileira especialmente num contexto de tantas transformações culturais e sociais. “A referência é fundamental para não nos perdermos do que sabemos. Hoje, há tanta informação e, ao mesmo tempo, tanta deturpação, que às vezes nos sentimos sem base, influenciados por diversas coisas. Para fugir disso, é essencial ter o coração ancorado na nossa história e ancestralidade”, aconselhou a cantora.
“O que vivemos hoje na Bahia não surgiu do nada. Foi construído a partir de quem somos e de onde viemos. Nossa cultura é ao mesmo tempo ancestral e contemporânea, e essa conexão nos dá um norte, permitindo que experimentemos o mundo sem perder a noção de nossa origem e destino. Ainda há muito sobre a África e sobre nós mesmos que não sabemos”, completou a ministra.
Margareth ainda acrescentou que a nova geração tem uma oportunidade enorme frente aos desafios passados que ela mesmo enfrentou. “Hoje, com todos os desafios, também há mais caminhos para o conhecimento e a valorização de nossa identidade”.
Sobre o Triiio do Carnaval
No dia 1º de março, o trio desfila pelo circuito Dodô (Barra-Ondina), conectando passado e futuro em uma festa onde os corpos dançam ao ritmo de uma história que nunca deixou de ser contada – apenas reinventada, uma batida de cada vez. Além da cantora angolana, Margareth Menezes também receberá Fafá de Belém, trazendo um encontro entre ritmos afro-lusófonos e amazônicos.
As convidadas foram anunciadas na última sexta-feira (14), no Palacete Tira-Chapéu, no Centro Histórico de Salvador, durante uma coletiva de imprensa. Além das participações especiais, Margareth destacou a homenagem que será prestada ao músico, cantor e compositor Mateus Aleluia durante o desfile.
“Geralmente, nos meus desfiles, eu sempre coloco uma música especial. Neste ano, vamos fazer uma homenagem a Mateus Aleluia com a música ‘Fogueira Doce’. Fizemos uma versão e vamos cantar, fazendo essa homenagem a esse grande mestre da nossa cultura”, afirmou a ministra da Cultura.
O evento, que reuniu a imprensa, contou com presenças especiais como o cantor Del Feliz, a deputada federal Lídice da Mata (PSB) e o senador Jaques Wagner (PT). No pocket show apresentado na ocasião, Margareth também cantou “Ramalhete de Flor”, sua nova música de trabalho e uma de suas apostas para o Carnaval 2025.
Este é o segundo ano do Triiio da Cultura, que desfilou na festa da capital baiana pela primeira vez em 2024, prestando homenagem a Gilberto Gil. Além da agenda com o trio, Margareth Menezes será homenageada pelo bloco Os Mascarados em 2025 e também se apresentará em um dos camarotes do circuito.
Confira nosso vídeo short da coletiva de imprensa:
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