MNU Bahia pressiona por câmeras nos uniformes policiais

Após relançar campanha histórica no 2 de Julho, MNU articula ações públicas e institucionais contra a letalidade policial no estado

Publicado em 08/07/2025 às 21h37

Foto/Reprodução: MNU-BA

Em meio ao aumento da letalidade policial na Bahia, o Movimento Negro Unificado (MNU) relançou a campanha “Câmeras nas Polícias Já” com foco na implementação de câmeras nos fardamentos das forças de segurança do estado. A proposta não é nova, mas ganhou força após o desfile do 2 de Julho de 2023, quando o MNU levou às ruas de Salvador faixas e cartazes cobrando medidas concretas para conter a violência do Estado contra a população negra.

Ao Portal Black Mídia, Catharina Maia Caetano, coordenadora estadual de Mulheres do MNU-BA, disse que a campanha retoma uma pauta histórica, já trazida inclusive por uma das fundadoras do MNU, a professora Ana Célia. Na emblemática data que marca a Independência do Brasil na Bahia, os militantes tomaram o desfile com cartazes, faixas e mobilização de militantes vindos de diferentes territórios do estado. Assim, o MNU levou às ruas sua denúncia contra o que considera uma política de extermínio da juventude negra.

“Nós saímos nas ruas durante o desfile com essa manifestação e lançamento público da campanha. Ela surgiu num momento em que o debate da segurança pública voltou em alta, com altos índices de mortalidade das pessoas negras, principalmente no estado da Bahia, que é um estado majoritariamente negro e onde a população negra tem sido vítima há anos”, explica.

A campanha enfatiza dados alarmantes, como o que aponta o boletim “Pele alvo: a cor que a polícia apaga” da Rede de Observatórios de Segurança, a qual observou que mais de 97% das vítimas da polícia baiana em 2022 eram pessoas negras. Já os dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, entre 2022 e 2023, apontou a Bahia como o estado com maiores números de mortes por policiais do Brasil, além de ter 11 das 20 cidades mais violentas do Brasil.

“Nos últimos períodos, nós observamos uma crescente na letalidade policial como um dos fatores de genocídio da população negra e nos preocupamos em manifestar de alguma forma os nossos interesses através dessa campanha para dialogar com a Segurança Pública e com o Governo do Estado da Bahia”, Catharina destaca.

A proposta do MNU, no entanto, vai além da simples instalação dos dispositivos. A campanha exige que o processo seja acompanhado por mecanismos de fiscalização por parte da sociedade civil e dos movimentos sociais, para que as imagens não fiquem restritas às corregedorias e aos próprios órgãos policiais. 

Transparência como prioridade

A proposta de uso de câmeras corporais já foi adotada em outros estados, como São Paulo e Santa Catarina. Em São Paulo, de acordo com levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, entre 2021 e 2022, o uso de câmeras corporais contribuiu para uma queda significativa nas mortes causadas por policiais. Enquanto os batalhões que não adotaram o equipamento registraram uma redução de 33,3% na letalidade, aqueles que passaram a utilizá-lo apresentaram uma diminuição de 76,2%. No total, a redução média foi de 63,7%.

Foto/Reprodução: MNU-BA

Desde 2023, o MNU tem participado de reuniões com a Secretaria de Segurança Pública da Bahia para apresentar formalmente suas demandas. A campanha propõe que o uso das câmeras seja ampliado não apenas à Polícia Militar, mas também às Guardas Municipais.

“Nossa proposta é que para além da implementação das câmeras no maior número possível de polícias, estenda-se também a uma proposta a nível municipal com os Guardas Municipais, que tem se tornado também um instrumento de violência e de genocídio da população negra”, afirma a coordenadora.

O movimento defende que, sem fiscalização externa, a medida perde força e se transforma em ação meramente simbólica. “Estamos participando e orientando que nos territórios onde existe militância do MNU esse debate seja discutido dentro dos eixos de discussão”, Catharina observa.

Isso porque o tema ainda faz parte das referências cruciais do MNU para as propostas das Conferências Municipais, Estadual e Nacional de Promoção da Igualdade Racial/Edição 2025, estando ela abrangida na primeira referência trazida pelo Movimento: “Combate ao Genocídio da Juventude Negra Baiana: Prevenção e enfrentamento enérgicos, efetivos e urgentes para proteger nossas vidas, considerando um conceito ampliado de segurança pública”.

A Conferência Municipal faz parte da IV Conferência Estadual de Promoção da Igualdade Racial (CONEPIR) e está prevista para ocorrer entre 20 e 22 de agosto deste ano, em Salvador. A etapa municipal também faz parte da V Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial (CONAPIR), realizada entre 15 e 19 de setembro, em Brasília. O tema de ambas é “Igualdade e Democracia: Reparação e Justiça Social”.

Campanha integra estratégia nacional de combate à violência racial

O MNU atua há 47 anos em todo o Brasil na luta contra o racismo, e a campanha integra uma agenda mais ampla do MNU, que inclui a apresentação de propostas nas conferências de Promoção da Igualdade Racial, atuação no Conselho Estadual de Desenvolvimento da Comunidade Negra (CDCN) e participação em frentes coletivas com outros movimentos negros e organizações sociais.

Através da campanha, o MNU reafirma seu papel como interlocutor nos debates sobre segurança pública e justiça racial, sendo assim a instalação das câmeras um ponto de partida. “Essa é uma das nossas propostas pilares para que a nossa militância se organize na discussão não só em Salvador, mas também em outras cidades”, conclui Catharina.

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