“Um Retrato Fiel da Bahia” revela reivindicação de negros por terras

Foto: Assessoria

A noite de lançamento do livro “Um retrato fiel da Bahia: sociedade, racismo, economia”, de Silvio Humberto, ocorrido no dia 8 de maio, foi marcada pela fala emocionada do autor, no Espaço Xisto Bahia, Biblioteca do Estado da Bahia. Num brinde à potencialidade negra e à produção intelectual da Bahia, o evento reuniu figuras importantes como o professor Kabengele Munanga e teve revelações importantes, frutos da pesquisa que alimentou a obra.

“Tive acesso a um documento em que, onze dias após a assinatura da Abolição, um grupo de libertos pedia terras para plantar cacau, o que contradiz toda essa narrativa comum de que nós, pessoas negras, não queríamos a abolição porque não gostávamos de trabalhar”, revelou Silvio. “O fato é que desde sempre compreendíamos que a escravidão era resultado do racismo contra nossa identidade.”

A obra de Silvio Humberto oferece uma análise profunda das raízes do desenvolvimento econômico brasileiro a partir de uma perspectiva racial. Ele demonstra como o racismo estruturou as relações de trabalho no pós-abolição, deixando reflexos que persistem até os dias atuais. Ao valorizar a resistência e as estratégias de sobrevivência da população negra, cujo capítulo é “Negros em Movimento”, o livro evidencia como as elites baianas, em seu conjunto, conseguiram preservar internamente a supremacia de raça e classe.

Fruto da tese de doutoramento de Silvio Humberto dos Passos Cunha, defendida na Universidade de Campinas (Unicamp) em 2004, a obra tem seu título inspirado na emblemática canção do sambista Riachão, conterrâneo do autor, nascido no bairro Garcia.

Estruturada em cinco capítulos, a publicação se inicia com uma tocante carta dedicada a Humberto Ribeiro da Cunha, pai do autor. Nos capítulos seguintes, a obra contextualiza o debate sobre a transição para o trabalho livre na zona açucareira, questionando abordagens simplistas e estabelecendo conexões profundas com as dinâmicas do Recôncavo. O autor explora a desintegração do escravismo açucareiro na região, as propriedades, as rotinas, os engenhos centrais, a criação de bancos de crédito, a Lei do Ventre Livre e as multifacetadas perspectivas do pós-abolição.

Particularmente, a análise se detém nas condições e estratégias de sobrevivência da população negra, no processo de imigração, no controle racial na capital baiana, na repressão às manifestações culturais de matriz africana e no fenômeno que o autor denomina “Carnaval-candomblé”.

Sobre o autor

Doutor em Economia pela Unicamp e mestre pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), Silvio Humberto é professor adjunto do Departamento de Ciências Aplicadas da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) há mais de três décadas. Compartilha seu conhecimento atualmente nas disciplinas de Desenvolvimento Socioeconômico, História do Pensamento Econômico e Economia Política II.

Sua atuação acadêmica se estende ao Laboratório de Estudos sobre Conexões Atlânticas e Experiências Diaspóricas Indígenas e Africanas (Lecadia), na mesma universidade, onde é membro ativo. Com quase quatro décadas de militância antirracista, é um dos fundadores e presidente de honra do Instituto Cultural Steve Biko, organização que há mais de trinta anos promove a formação antirracista e contribui, por meio dela, para o ingresso de estudantes negros nas universidades. É vereador de Salvador pelo quarto mandato consecutivo, destacando-se em defesa de políticas públicas de promoção de igualdade racial.

📲 Siga também: @blackmidiaconecta e conheça nossos serviços.

💡 Apoie o Portal Black Mídia: O Futuro da Juventude Negra na Mídia! Para seguir nossa jornada em 2025, precisamos de você! Contribua com qualquer valor via PIX (CNPJ: 54738053000133) e fortaleça o Portal Black Mídia. Sua doação nos ajuda a continuar oferecendo jornalismo independente e soluções que impactam vidas.

Faça parte da Comunidade Black

As Comunidade Black é um espaço seguro para discussões sobre os temas que estão relacionados com as nossas editorias (temas de notícias). Não quer ler um montão de textos, mas quer acompanhar tópicos de temas determinados? Conheça os grupos, escolha aqueles que você quer fazer parte e receba nossos conteúdos em primeira mão.

Clique para acessar nossa comunidade

Nossa comunidade é um espaço para nossa audiência receber reforços de nossos conteúdos, conteúdos em primeira mão (I'sis Almeida, diretora jornalismo do Portal)

No geral, mesmo com as redes sociais as pessoas não se conectam, e é por isso que abrimos esse espaço de conversação. (Lavínia Oliveira, diretora de arte do Portal)

Black Mídia TV

@portalblackmidiaa

@portalblackmidia